Conhecendo a Cordilheira dos Andes

cordilheira dos andes

[dropcap letter=”Q”]uando era pequena eu passava horas olhando uma foto que meu pai tirou na Cordilheira dos Andes, durante uma viagem de carro que ele fez da Argentina ao Chile. Gostava de ver ele parado usando um blusão azul, com os braços cruzados, as enormes montanhas nevadas ao fundo, e um leve sorriso estampado em seu rosto. Tenho essa foto até hoje e desde aquela época eu tinha vontade de conhecer a cordilheira.

Finalmente este ano fui para Mendoza e eu também estive no meio daquelas formações rochosas imensas, onde o silêncio impera e as paisagens surpreendem.

A Cordilheira dos Andes tem quase 8 mil quilômetros de extensão e vai da Venezuela até a Patagônia, passando pela Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina.

cordilheira dos andes

Estando tão perto da cordilheira, eu não podia perder a chance. No centro de Mendoza procurei uma agência de turismo, há várias que oferecem o passeio, e lá fui eu.

Da cidade são cerca de 170 quilômetros até chegar a cordilheira, pela estrada N-7. Em Mendoza já dá pra ver algumas montanhas, mas essa é a pré-cordilheira. No dia seguinte acordei às 7am e esperei a van vir me buscar. Pelo caminho fomos parando em lugares interessantes para tirar fotos, descansar e observar a paisagem.

O primeiro foi o Vale do Uspallata, a 100 quilômetros de Mendoza. Nesse pequeno povoado moram apenas duas mil pessoas. Esse lugar é tão bonito que o filme “Sete Anos no Tibet” foi gravado ali. A partir desse ponto é onde começa mesmo a Cordilheira dos Andes.

Puente del Inca
Mais na frente outra parada, encontramos uma das maiores atrações do caminho, o Puente del Inca. Essa formação rochosa natural está a 2.750 metros de altura acima do nível do mar. Por baixo dela passa o Rio Las Cuevas, que tem águas ricas em enxofre, com propriedades medicinais.

puente del inca

Em 1915, um hotel chique foi construído ali para que os hóspedes pudessem tomar banho nessas águas termais. As pessoas desciam até a ponte, através de um corredor fechado, para aproveitar os benefícios medicinais do rio. Porém, uma enxurrada destruiu tudo em 1965 e o hotel foi fechado.

puente del inca

O enxofre é que dá esse tom amarelado e alaranjado a ponte e aos objetos que são vendidos ali. Vejam que curioso são essas figuras. Elas foram mergulhadas nessas águas sulfurosas e ganharam essa textura “petrificada”, que na verdade é um processo de mineralização. Desde 2005 a ponte está fechada para os turistas, somente os artesãos que trabalham na região podem cruzar para deixar seus objetos mergulhados por alguns dias, para depois vendê-los aos turistas.

Reza a lenda que essa ponte se formou quando vários guerreiros se debruçaram para que o filho do herdeiro do Império Inca, que estava doente, pudesse passar para o outro lado para tomar água do rio e curar-se. E quando o chefe quis agradecer aos homens pelo gesto, eles tinham ficado petrificados ali. Histórias à parte, a ciência explica que a ponte foi criada graças a erosão hídrica do rio.

puente del inca

Depois de algumas fotos e de ouvir essas histórias, hora de seguir com o passeio. Antes de chegar ao Chile, o último ponto turístico é o Cristo Redentor. Ok, a estátua não é tão alta e imponente como a do Rio de Janeiro, mas o caminho para chegar até lá é deslumbrante. Tem que sair da estrada principal, há placas de sinalização, e subir por um caminho de terra durante oito quilômetros até atingir 4.200 metros.

cordillera de los andes

Entre curvas e altura, a vista de toda a cordilheira vai ficando cada vez melhor. Lembro de ficar prestando atenção no silêncio do vento que ia passando pelas montanhas. Uma sensação incrível.

Quando chegamos lá em cima, a guia já tinha dito que era preciso se agasalhar bem, e ela tinha razão. Gente, ali fora faz muuuuito frio e o vento não dá trégua. Isso que era verão, começo de março. Lembro que fui tirar uma foto ao lado do Cristo e quando sorri senti dor nos dentes, acreditam?

cristo redentor

O lado bom é que a vista dali de cima é impressionante e tem duas barraquinhas que vendem chocolate quente aos turistas mais friorentos, como eu. Aliás, esse caminho só fica aberto durante os meses de verão, porque no inverno neva muito nessa região e fica intransitável.

cristo redentor

A estátua foi colocada ali para selar um acordo entre o Chile e a Argentina, evitando assim uma guerra entre as duas nações por conta da delimitação de terras. Aos pés do Cristo está escrito; “Primeiramente cairão as montanhas antes que chilenos e argentinos quebrem a paz jurada aos pés do Cristo Redentor”. Até 1980 esse caminho era a única opção para cruzar a fronteira entre os dois países. Hoje, o cruzamento é feito pelo Paso Internacional dos Libertadores.

Como o tour ainda não tinha terminado, era hora de continuar. Depois de  correr de um lado pro outro para não ficar congelada, começamos a descida para voltar a Mendoza.

aconcagua

Na volta passamos por um mirador de onde dá pra ver a ponta nevada do Aconcágua, a montanha mais alta do continente, com 6.962 metros de altura.

Milhares de montanhistas tentam chegar ao topo todos os anos. Há vários caminhos para chegar lá, mas a tarefa não é fácil. Infelizmente muitas pessoas morrem todos os anos tentando superar seus próprios limites. Por causa das duras condições climáticas, a subida ou descida só é permitida do dia 15 de novembro ao dia 15 de março.

cordillera de los andes

Na estrada passamos por um cemitério de andinistas. Geralmente, as pessoas que perdem a vida nessa montanha ficam ali. Quem quiser mais informações sobre o Parque Aconcágua, clique aqui.

No fim da tarde, quando estávamos voltando a Mendoza já um pouco cansados, enquanto ouvia música, senti uma sensação gostosa. Talvez tenha sido a mesma que meu pai experimentou quando também passou por ali há muitos anos. Aquela de fazer parte da natureza, às vezes como espectador e outras como ator principal.

cordillera de los andes

Dicas:
Não deixe de levar uma jaqueta grossa para esse passeio. Lá em cima o clima muda abruptamente e o vento é forte. Além disso, não esqueça de levar também uma garrafa de água, não há muitos lugares para comprar no caminho.

Fiz esse passeio a convite da agência de turismo Kahuak de Mendoza. Além do tour de alta montaña, que é esse que fiz, eles também oferecem rafting, cavalgadas, passeios por vinícolas e muitas outras atividades.

Join the Conversation

6 Comments

Participe e deixe seu comentário

  1. Esse lugar também marcou minha primeira visão da Cordilheira dos Andes, no início de 2008, quando fiz uma viagem de moto ao Deserto do Atacama. Nunca vou esquecer a sensação de vislumbrar o pico nevado do Aconcágua a partir de um mirante no caminho antigo de Mendoza até o Chile.

  2. Que delícia ler este post. Estivemos neste lugar como parte de uma viagem de 10 mil km pela Argentina, Chile e Uruguay. Não vemos a hora de voltar lá com nossos filhotes! Fizemos o trekking até o primeiro acampamento base dentro do Parque do Aconcágua, altamente recomendado quando vc for da próxima vez!!!